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Geoffrey Hinton, o “Padrinho da IA”, alerta: já perdemos o controle

Considerado um dos pais da inteligência artificial, Geoffrey Hinton construiu os fundamentos que tornaram possível o avanço dos sistemas de IA nos últimos anos. Agora, com a autoridade de quem ajudou a criar o que está por vir, ele faz um alerta direto: a humanidade pode já ter perdido o controle sobre o que construiu.

Em uma entrevista franca e intensa, Hinton compartilha suas preocupações com o avanço acelerado da IA, os riscos reais da superinteligência e a falta de estrutura global para lidar com os impactos profundos dessa transformação.

"Não era para evoluir tão rápido"

Segundo Hinton, o que mais o surpreendeu foi a velocidade com que os modelos de IA evoluíram nos últimos cinco anos. Sistemas como os da OpenAI, Google DeepMind e Anthropic demonstram comportamentos emergentes — ou seja, realizam tarefas para as quais não foram explicitamente programados. Isso, para ele, é um sinal claro de que as máquinas estão aprendendo de formas que nem os criadores conseguem explicar completamente.

“Começamos a criar algo que aprende por conta própria — e isso muda tudo.”

Riscos reais: desinformação, manipulação e superinteligência

Hinton lista três frentes de risco:

  1. Desinformação em escala: Com a IA gerando textos, áudios e vídeos cada vez mais realistas, será difícil distinguir o que é verdadeiro do que foi fabricado. O impacto para a democracia, segundo ele, é preocupante.

  2. Impacto no mercado de trabalho: Não se trata apenas de substituir funções operacionais. A IA está avançando sobre áreas criativas e cognitivas, e isso exige uma reestruturação profunda na economia global.

  3. Superinteligência fora de controle: O maior temor de Hinton é que, em um cenário não tão distante, máquinas se tornem mais inteligentes que os humanos, e desenvolvam estratégias próprias para atingir objetivos — mesmo que isso envolva manipular ou enganar seres humanos.

Regulação e responsabilidade: estamos atrasados

Hinton acredita que as empresas de tecnologia não podem ser deixadas sozinhas para definir os rumos da IA. Ele defende uma regulação global urgente, com participação de governos, cientistas e sociedade civil.

“Estamos em um momento parecido com o da criação da energia nuclear. A diferença é que a IA pode ser ainda mais imprevisível.”

Segundo ele, o tempo para agir é curto — e o debate não pode mais ser técnico ou restrito aos laboratórios. É um debate civilizacional.

Geoffrey Hinton não fala como opositor da IA. Pelo contrário, ele foi um dos criadores desse novo capítulo da história humana. Seu alerta é de quem entende profundamente o potencial — e os perigos — dessa tecnologia.

A inteligência artificial pode ser nossa maior aliada. Mas, como toda força poderosa, precisa de limites, governança e, principalmente, responsabilidade coletiva.

O futuro está em construção. Mas, nas palavras de Hinton, talvez já tenhamos cruzado a linha onde o controle deixou de ser exclusivamente nosso.

Confira a entrevista na íntegra (em inglês):

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